Pesquisa personalizada

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Blog do Sérgio Dávila-Diário do Teerã

Esse texto retirado do blog do Sérgio, representa muito bem o que quero dizer com "verdadeira notícia".
A mídia convencional que nos traga os grandes momentos históricos baseando-se em agentes especiais como governantes e intelectuais, mas acredito que a função do blog seja trazer as pessoas que sofrem as ações.
Lembrando que um dos melhores relatos sobre a Segunda Grande Guerra, advém do diário de Anne Frank, ninguém "especial" embora traga com a clareza de um Gay Talese os acontecimentos do conflito.

Aqui está o texto publicado pelo Sérgio: Blog do Sérgio
Diário de Teerã - Texto exclusivo de uma iraniana

A partir de hoje --e pelo tempo que for possível--, esse blog publica relatos de uma iraniana que vive em Teerã e conta os desdobramentos do movimento de oposição ao presidente Mahmoud Ahmadinejad. O nome dela foi trocado por medida de segurança.

*

Deus continua grande e veio cobrar os aiatolás

Por Anna Olivier, de Teerã


Há duas semanas, ao meio-dia, eu fui à tradicional oração das sextas pela primeira vez na minha vida para apoiar nosso candidato, Mir Hossein Mousavi, e ouvir o aiatolá Akbar Hashemi Rafsanjani, mesmo que não soubesse exatamente o que ele iria dizer. Havia muita gente, todas as ruas em volta da Universidade de Teerã estavam cheias.

O aspecto mais interessante dessa eleição e dos eventos que se sucederam foi que nos fez fazer muitas coisas pela primeira vez, coisas que não imaginávamos possíveis antes. Assim, aquela oração de sexta foi a maior da história recente do Irã. Mesmo os frequentadores habituais, pessoas mais religiosas, nos disseram que nunca tinham visto tanta gente.

Havia um novo slogan também. Quando o orador que antecedeu Rafsanjani dizia “Abaixo Israel, abaixo os Estados Unidos!”, o povo respondia “Abaixo a Rússia, abaixo a China!”. Quando a imprensa iraniana chegou, todo o mundo gritava: “Nós temos vergonha de nossa mídia”. O fim do dia foi marcado, é claro, por mais brigas e mais gás lacrimogêneo.

De noite, e todas as noites antes disso e desde então ainda se podia ouvir gritos de “Allahu Akbar!” (Deus é grande). São armas religiosas contra uma ditadura religiosa, e foi exatamente assim que os aiatolás desafiaram o regime do xá Pahlevi, nos anos 70. Mas eles nunca pensaram então que Deus continuaria grande e cobraria deles um dia. Agora é o dia.

Não acredito que os aiatolás vão desaparecer, mas esse tem sido um belo desafio para o regime, e todas as ameaças e o terror da reação mostram como eles não esperavam que esse dia chegaria --tão cedo para eles, tão tarde para nós, é claro.

Quando a oposição escolheu a cor verde, Mahmoud Ahmadinejad disse “nossa cor é a cor da nossa bandeira”. É uma tristeza, pois agora, toda vez que olhamos para nossa bandeira, sentimos medo e passamos mal. Desde a fala do presidente, a cada demonstração, um pequeno número de seus partidários se infiltra entre nós e começa a marchar com a bandeira do Irã em suas mãos, para se sobressair da maioria esmagadora dos outros, os “verdes”.

Na oração de sexta, um grupo de partidários fez isso para nos amedrontar --sim, eles acham que são realmente amedrontadores. Meu marido pegou uma das bandeiras e a beijou. A partir daí, todos os “verdes” passaram a beijar as bandeiras iranianas que estavam nas mãos de nossos compatriotas, mas nesse momento inimigos.

De repente, manifestações de simpatia entre nós e eles passaram a acontecer no meio da multidão. As pessoas se davam as mãos e um deles disse: “Nós não pensamos igual mas nós somos compatriotas”. Naquele momento, eu não sabia se ficava feliz ou triste.

Esse foi o trabalho de Ahmadinejad, essa divisão entre o povo é culpa dele, sem dúvida --o ódio entre pessoas de lados opostos politicamente nunca foi tão exacerbado como agora.

Nenhum comentário: